Crucifies my enemies....

sexta-feira, outubro 14, 2005

Vida própria

Este género de atitudes nunca deixa de me espantar: esperar dias seguidos em filas para conseguir bilhetes para um qualquer tipo de espectáculo; ir para aeroportos esperar individualidades, ou conjuntos delas, para lhes poder mostrar o apreço que nos merecem; ir para a rua festejar as vitórias de outrem; pedir licença antes de desligar o telefone (“então adeus, até amanhã…com licença – click!”).
Milhares de pessoas não podem estar erradas, eu é que estou mal! Olho à volta nestes momentos de alegria colectiva, e sinto que sofro de uma grave deficiência emocional. Nada me move desta forma, a não ser as reposições de “Duarte e Companhia”.

Ponho já aqui um parêntesis – não sou daqueles bichos que desprezam tudo o que é espectáculo para as massas. Adoro ir a concertos, a jogos de futebol, ou a qualquer tipo de eventos em que se justifique a companhia de mais do que 7 pessoas, incluindo festas com a Elsa Raposo.
Não me consigo é entusiasmar como os outros. Não vou para a rua saltar e berrar, a não ser que me engane nos remédios. Não me disponho a esperar numa fila, durante mais do que 15 minutos, nem para salvar um rim. As únicas pessoas que vou receber ao aeroporto são as da minha família, e mesmo assim, espero no carro. Enfim…

Adorava ter essa disponibilidade, essa capacidade de abdicar de mim próprio, a favor de outros. De celebrar as suas vitórias, como se fossem as minhas. De assistir aos seus concertos, como se também eu estivesse em palco. De me emocionar ao ponto de bater palminhas, sempre que qualquer artista estrangeiro consiga dizer ao microfone uma coisa parecida com “obrigada”. Adorava!
Mas a verdade é que não consigo! Sou totalmente incapaz de me envolver dessa forma na vida dos outros, normalmente por razões absurdas, tipo…ter uma vida própria.

Sempre achei que existiam dois tipos de pessoas: os que produzem arte, e os que a apreciam. Só me apercebi do meu erro na única vez que assisti a teatro de revista.
Mas se isso de facto fosse verdade, eu teria de estar do lado dos produtores, senão não existia. E isso era uma chatice, pelo menos para mim…

Francisco Menezes

(bom fim de semana)

2 comentários:

Father R. Filipe disse...

Muito bom texto.

Anónimo disse...

Mas definitivamente não se aplica na integra ao luke!