Crucifies my enemies....

segunda-feira, abril 25, 2005

Bonga



É um dos maiores embaixadores mundiais da música africana. Bonga completou este mês 60 anos de idade e mesmo assim o «kota» não pára. Ainda bem!

30 anos de carreira, 30 discos gravados, discos de ouro e de platina... O que é que lhe falta fazer?
Não sei. Sabe que quanto mais coisas se faz, mais se quer fazer e mais coisas aparecem para ser feitas.

Para já tenho um novo disco - ainda falta limar umas arestas - mas não sei como se vai chamar. Foi feito à volta de uma personagem (mulher) imaginária. Sairá mais para o fim do ano em Paris, porque é a cidade que mais me acarinha.

A palavra retrospectiva começa a ter mais peso na sua vida do que a perspectiva?
Não. Para ter uma visão do que vai ser o amanhã, é preciso continuar a fazer espectáculos, gravações e planear. Ainda estou cá para as «curvas».

Sei que está maior parte do ano em França, mais concretamente em Paris. Como é que se sente lá?
Muito bem. Fui, com muita honra, solicitado para pertencer a esta interdisciplinaridade de artistas americanos, africanos e brasileiros, para divulgarem as suas obras em Paris.
Por isso, é que tenho a melhor das relações com França – para além de adorar viver lá.

Além da comunidade africana que assiste aos seus espectáculos em França que outro público abrange?
França tem uma grande comunidade africana e, de facto, vão muitos aos meus espectáculos. Mas posso dizer-lhe que em muitos concertos chego a ter 85 a 90 por cento de franceses no público.

Como é que acha que eles sentem a sua música?
Como entendem a música dos brasileiros, como entendem a Cesária Évora. É como se fosse uma força física, mental e natural.

Considera-se um artista embaixador da palavra portuguesa e da música africana em termos mundiais?
Sim, e gosto muito de ser considerado como tal. Eu entrei na música pela porta da frente e acho que sou um boa referência para as próximas gerações de músicos.

A sua música, para além do «semba», mistura o folclore também.
Está sempre presente, é cultural, é identidade e é aí que eu acho que faço a diferença. Gosto muito de fundir os estilos.

Essa complementaridade é proporcional e planeada propositadamente?
Também, mas também passa muito pelo que está dentro de nós e da nosso sensibilidade. É aí que está a nossa identidade.

Sente que há futuro na música africana?
A música africana está de boa saúde porque continuamos a ter a imaginação e criatividade dos miúdos da rua. Com as pessoas que conhecem (ou não) uma tradição, mas que estão prontas a fazer coisas. Dos que, um dia, se vão fazer músicos.

Dos músicos com quem gravou qual foi o que lhe marcou mais?
Foi aquela vocalista dos “Vaya con Dios”. Ela ouviu um tema de um disco meu e gostou. Depois foi ver um espectáculo meu e adorou. No fim do concerto ela veio ter comigo e disse que gostava que eu participasse num tema do disco dela. Entretanto, voltou para a Bélgica e passados uns dias chamou-me e fui gravar com ela. A música tem umas frases em inglês mas ainda não está pronta. Estou ansioso por ouvir.

Gostava de gravar um disco com quem?
Com o Ray Charles.

Que música é que gosta de ouvir?
Vários estilos, desde a música brasileira (MPB), o samba, jazz, angolana, folk, etc... Tenho um ouvido muito eclético.

O mercado português

O que acha das editoras e do sistema português relativamente aos músicos africanos, nomeadamente os angolanos?
O sistema e as pessoas não estão muito com os angolanos, sempre estiveram mais interessados com o que Angola produz!.
Posso-lhe dar um exemplo paradoxal: na televisão francesa eu não fico a tocar ou a falar só três minutos - como se fazia aqui na SIC com o Baião, on-de as músicas africanas passavam dois minutinhos e depois... «vai-te embora»! Eu quando vou à TV francesa, estou sentado numa mesa redonda a falar dos meus temas, dos meus textos, dos meus instrumentos, o que a gente toca, ou seja, tudo o que se diz como em qualquer outra profissão. O músico africano não tem espaço em Portugal.

Mas não há uma grande fatia de mercado a explorar?
Claro, o número de africanos fala por si. Não temos é as coisas bem encaminhadas, mas tenta-se fazer; é complicado porque as pessoas não são incentivadas.

São as comunidades que estão mal organizadas ou é um problema institucional?
São as duas coisas.

O Bonga poderia ser um pouco o incentivo e o motor dessa organização?
Mas não chega. O Estado é que tem de promover mais eventos. Há tantos locais possíveis... Sabe que há bons grupos africanos em Portugal que não têm nem local de ensaio nem para os seus espectáculos, é complicado.

O lado político e intervencionista das sua letras não pode ser esquecido. Não teve problemas com isso?
Tive, sobretudo, problemas com as opiniões de pessoas que não eram democratas. Mas tenho a consciência tranquila, porque também ajudei a construir com uma pedrinha, aquilo que agora está a despertar. Estamos aqui para acompanhar o evoluir deste povo, mas há coisas que não podem nem nunca poderão deixar de ser ditas.

1 comentário:

Pedro Rodrigues disse...

Vive praticamente o ano todo em frança.... QUando é que se muda de vez?