Seja benfiquista, ou não respire
Ruben P. Ferreira
Pinto da Costa foi amável. Quando se levantou para dar o lugar a Nuno Gomes – que se recusou sentar –, partiu de imediato para o próximo acometimento em frente aos microfones, numa conferência de imprensa cheia de referências à luta-livre. Fazendo justiça à fama de fomentador da discórdia, recusou comentar a arbitragem no pós Benfica-Porto. Mas não se conteve de fazer insinuações sobre a prestação dos árbitros nos jogos que antecederam este último rol de vitórias do clube que dirige. O mentor portista é, ao fim e ao cabo, como todos os outros que se diverte a afear: usa a conveniência pessoal e a actualidade para influenciar e incendiar o universo futebolístico português, tirando partido disso: a motivação da equipa portista pelo ódio, pela apologia da miséria dos outros.
Lê intensamente “Como aplicar bons golpes de rins”. Tem neste título a sua filosofia estratégica. Assim desafia a lógica e analisa as situações. Corrosivo quanto baste, abre e fecha a boca cuspindo labaredas de fogo e fumo branco com cadência perfeita. Como um verdadeiro dragão. Tem plena consciência da importância dos seus tempos de antena e, como um político, age de acordo. Se analisarmos bem, falou num tom jocoso, semi-cínico, por vezes irónico e muito, bastante, contundente. Fez questão de se autoproclamar agente da verdade ao declarar não fazer parte dos morcões que elegeram os órgãos de soberania da Liga de Clubes e, por outras palavras, alcovitou: “pá, como é que nos podem acusar de ter influenciado o resultado e o árbitro se nós recusámos eleger quem decide quem apita o quê?”
A sua arrogância para com o SLB revelou consciência da determinação lampiã e do valor agigantado da equipa vermelha nesta época. Pela outra velha máxima, atirou-se às águias de garras afiadas – embora os dragões as não tenham –, porque a melhor defesa é o ataque. Atribuindo a si próprio um estatuto de vedeta, atirou os foguetes, apanhou as canas e riu-se de todos. Assim se defendeu e contra-atacou. Essencialmente, faltou-lhe alguma discrição. E a Luís Filipe Vieira e José Veiga também. A bem da verdade convém esclarecer que os dirigentes benfiquistas não ajudaram nada à promoção do pacifismo, e nem o resultado magro justifica os ânimos exaltados e as referências familiares tolas e desinteressantes. Neste âmbito, Pinto da Costa ganhou a batalha porque conhece melhor os instrumentos, usa-os há mais tempo. Geriu a exposição de informação a seu gosto, respondendo, nunca tomando a iniciativa. Revelou fartos conhecimentos da história de vida da malta lisboeta. Um adeus cínico a esse homem do Norte, tal e qual o aceno feito sobre os adeptos benfiquistas no final do jogo.
Crucifies my enemies....
quarta-feira, outubro 27, 2004
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