Viver
não custa nada
É só deixar correr
e perfazer
os dias da jornada
É ir no vento
ou contra o vento
mas ir
Viver
não custa nada
O que custa é sentir
este amor este lume
e não se prescindir
deste ciúme
Viver
não custa nada
O que custa é saber
que amanhã ou depois te vou perder
e o que ainda é mais triste
é ver que o Amor das minhas alegrias
afinal não existe
porque não cabe nos dias
Viver
não custa nada
que o que torna a vida impertinente
eivada de acrimónia
é o estado de alerta permanente
é esta imensa insónia
é esta sede avara
que me corrói e não pára
que me tortura e não sara
é tu seres… é tu seres o sol poente
que não volta a nascer
Viver
não custa nada
Atravessar a vida não enfada
que o Mundo é grande e vário
e viver é mesmo extraordinário
quando p´ra além dos sóis
há o sol do teu sorriso
Mas depois
é preciso vencer
todos os medos
de ver que o hoje foge
e que à socapa
tudo se nos escapa
entre os dedos
Viver
não custa nada
O que custa é entender
como é maior que o peito o coração
e como mesmo assim
eu sinto dentro em mim
o peito vão
tão cheio de vazio e desconsolo
que mais parece
a noz que se oferece
sem miolo
Viver
não custa nada
Muito menos
morrer
Anthero Monteiro,
Canto de Encantos e Desencantos,
2.ª edição, Vila Nova de Gaia, Corpos Editora, 2005
(obrigado AP)
Crucifies my enemies....
terça-feira, março 21, 2006
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário