Os amigos que não conheço

(obrigado LB)

Tempos houve em que algumas pessoas viviam o Natal de forma triste. Não tinham amigos que lhe escrevessem um postal de boas festas. Alguns (principalmente algumas, pois é mais coisa de mulher) escreviam resmas de cartões com paisagens de florestas nevadas, de trenós e de anjos. Havia os da Unicef, os dos pintores com os pés, os lá do serviço, os da papelaria da esquina, os dos saldos (já amarelados e de cantos dobrados) e claro os de luxo comprados na Fernandes ou similar. Normalmente quem escrevia muitos, nunca recebia a mesma quantidade, mostrando assim que era uma pessoa pouco amada, mas muito amadora. Tudo foi esmorecendo e cada vez os correios têm menos serviço de cartões de natal. Mas eis que chegaram os três reis magos: Gasparoptimus, Baltazartmn e Belchiorvodafone que tornaram alegre o Natal de milhões de portugueses. Absolutamente divinal. Eu que triste, durante anos, abri a metálica e fria tampa da caixa de correio em busca de uma lembrança, passei a ter amigos em barda. Eis que, em catadupa, encheram de mensagens o meu telemóvel, de felicidade o meu coração e de valor acrescentado os cofres de mirra, icenso e ouro (de outros). Só não percebi bem foi uma fixação obsessiva que neste período existiu de mensagens associando o Natal a sodomia, envolvendo pai natal, renas, duendes, chaminés, eu próprio e todos os que receberam mensagens iguais (penso que não deveria ter sido só para mim). Bem, lá escapou o menino jesus, mas também era melhor !!! Mas o que mais me emocionou foi as cerca de 30 mensagens que recebi de pessoas que não imagino sequer quem sejam, nem lhes reconheço o telefone. Finalmente descobri mais uma verdade na vida - Tenho amigos que não conheço, mas apenas 30. Estou ansioso pelo próximo natal, não estamos ?!