(estas linhas são copiadas de um artigo do Director Executivo da Motociclismo, e estão aqui pelo proximidade de emoções entre o autor e a minha pessoa, mas antes de mais e como n.d.r., a vida é difícil, a vida é complicada, há linhas laborais que nos fazem entrar em contacto com outras realidades, mas não devemos por esses exemplos como pautais para as nossas vidas. Devemos aceita-los, porque existem, compreende-los pois poderão melhorar a nossa maneira de dirigir-mos o nosso próprio percurso, mas nunca fazer deles arma de arremesso contra alguém que não vive essas realidades e sinceramente, é melhor que assim o seja. Trabalho é trabalho, conhaque é Napoleon de 1918. Para finalizar antes da transcrição, um pensamento confucionista, não vale a pena remar contra a maré, irás perder, mas sempre há a hipótese de guiares o teu barco, seguindo o rumo imposto, para a margem que mais te convém.)
O prazer da viagem, por Vitor Sousa (in motociclismo n.º176 Dezembro 2005)
As motos são de facto uma fonte inesgotável de prazer. Para além, claro, de um meio de locomoção prático e económico. É, aliás, esta sua característica que a torna num objecto - melhor diria, num meio de transporte - desejado e cobiçado em todas as grandes metrópoles do mundo ocidental... bem, em todas não: em Lisboa, por exemplo, contam-se pelos dedos das mãos as que se vêem num dia normal. Triste realidade de que falaremos noutra altura.
A mota pode ser gozada de várias formas. A mais radical, desportiva, competitiva, é uma delas. Tem entre nós apaixonados adeptos. Está-nos no sangue latino o gosto pela velocidade, por máquinas ruidosas e vistosas, "racing". Há na terra lusa toda uma escola que remonta aos tempos das XF-17 Super, com avanços rebaixados, passando pelas Boss "kitadas" às mais recentes "Dê Tês". No fundo, malta que tem no equivalente "pequeno burguês com crédito (do pai, a maioria das vezes)" da actualidade o seu verdadeiro e actualizado reflexo, agora aos comandos das mais fogosas "erres" que o mercado oferece. Eu também gosto - digo já - mas é tipo hambúrger, não se come todos os dias. O que realmente me enche as medidas é viajar de moto. Não há melhor sensação que a de partir de Lisboa numa manhã fresca com os primeiros raios de sol. Não troco isso por nada. Nem a excitação de véspera e das malas feitas (sempre) à pressa; da noite mal dormida; da revisão dos planos, das etapas, dos locais para reabastecer, comer e dormir. Não sou grande "planeador", gosto de improvisar. Gosto de levar uma moto de que goste, independentemente de se tratar de uma turística; gosto de alforges, mesmo que dêem uma trabalheira, gosto de montar a tenda no banco de trás, ver-me atrapalhado para lhe juntar o saco cama e o colchão e tapar tudo com um plástico improvisado para que não se molhem. Não me assustam os quilómetros. Gosto de fazer quilómetros, muitos. Não me assusta o tempo... desde que bem equipado. E gosto de andar bem equipado. Chateia-me a chuva, mas não me pára. Gosto de partir, todos os dias, para um sítio novo. Gosto de passar pelas terras e demorar-me numa esplanada a observar as pessoas. Tomar um banho a escaldar ao fim da jornada diária e comer uma bela refeição quente... a edílica alternativa às bolachas e sanduíches do dia. Gosto da solidão da viagem. Da instrospecção. De falar, assobiar e cantar só para mim dentro do capacete. De fazer projectos e planear novas viagens. Gosto de me sentri parte da paisagem, de percorrer novas estradas e as mesmas de sempre: gosto de cruzar os Pirinéus(atravessar Espanha é uma chatice!!!).
Embora já tenha andado de moto numa vintena de países, não sou grande mototurista. Mas tenho pena, Essencialmente por falta de tempo e oportunidade. Mas sem uma viagem grande por ano é certo que envelheço mais depressa.
Aos que nunca experimentaram, a viagem de moto é uma receita que aconselho. Pelo seu valor terapêutico (sempre se poupa no psicólogo...) e intrinsecamente motociclístico. Do mais puro. Parece-me.
Crucifies my enemies....
segunda-feira, dezembro 05, 2005
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