Subida do preço do tabaco está a aumentar criminalidade

A subida do preço do tabaco está a provocar um aumento da criminalidade associada ao transporte de maços de cigarros. Dados recolhidos junto da PSP e da GNR indicam que os assaltos a viaturas de transporte de tabaco subiram mais de 200 por cento. Quase todos os crimes foram cometidos pelo mesmo grupo, de forma violenta e com recurso a armas de fogo. Por isso, o número de investigações da Polícia Judiciária também cresceu. O Governo admite que o preço do tabaco pode tornar o crime mais apetecível e já pediu um estudo de impacte do novo aumento previsto no Orçamento de Estado sobre a criminalidade.

O agravamento destes crimes levou a Tabaqueira a solicitar, em Julho, uma reunião ao Gabinete Coordenador de Segurança. Já na semana passada, o Secretário de Estado Adjunto da Administração Interna, José Magalhães, recebeu representantes daquela empresa e de retalhistas de tabaco. Na reunião foram abordados os resultados da análise do fenómeno feita em dois relatórios pela PSP e pela GNR.

No relatório da PSP, estes crimes são descritos como «organizados e violentos. «Na maioria dos casos foram praticados pelo mesmo grupo», explica fonte da Direcção Nacional da PSP. À mesma conclusão chega a Judiciária: «Sabemos que é um grupo grande e estamos perante uma situação de associação criminosa», admite o inspector-chefe Vítor Marques. O mesmo responsável acrescenta que já foram detidos «alguns» membros do grupo mas a «PJ prossegue a investigação e ainda está a recolher elementos de prova».

A informação recolhida pelo PortugalDiário permite avançar que se trata de um grupo de cinco ou seis indivíduos, homens e jovens. «Imobilizam o veículo de transporte de tabaco em lugar ermo e através de coação ou uso de armas de fogo subtraem o veículo, mantendo o condutor sequestrado. Depois roubam a carga e abandonam o condutor e o veículo», descreve um oficial da PSP. A maioria dos casos acontece no norte do país, nas regiões do Porto e de Braga. O condutor é, normalmente, alvo de agressões físicas. As viaturas não ficam em melhor estado.

As autoridades salientam ainda o «planeamento» dos crimes. «São estudados os percursos de distribuição do tabaco e são feitos seguimentos e vigilâncias desde os armazéns aos cafés», revela o mesmo responsável da PSP. De acordo com a investigação da PJ, «a quebra de rotinas dos fornecedores de tabaco é fundamental para prevenir estes casos». Mas Vítor Marques, da Direcção Central de Combate ao Banditismo, avança outro conselho para as transportadoras: «Nunca deixar as carrinhas a trabalhar enquanto são feitas as transferências de cargas». Instalar equipamentos de localização por GPS é outra medida proposta.


Crime compensa mais

Desde o início do ano, o Gabinete Coordenador de Segurança já somou 120 crimes de roubo e furto de tabaco. Um número que soma casos de assaltos a viaturas, a cafés, armazéns e máquinas de tabaco. A GNR e a PSP contam 34 situações relacionadas apenas com o transporte do produto, mais 23 crimes do que no ano passado. Nos primeiros nove meses de 2005 a PJ investigou 17 casos, mais sete do que em igual período de 2004.

Tanto a PSP como a GNR admitem que o aumento do preço dos cigarros torna estes crimes mais apetecíveis à ocasião do ladrão. O próprio Governo admite que tornar os maços mais caros «cria pressão nos consumidores para que recorram ao mercado negro».

A pensar no recém anunciado aumento do imposto sobre o tabaco, o Secretário de Estado Adjunto da Administração Interna pediu, no dia 26 de Outubro, um estudo de impacte da medida no aumento da criminalidade. Até porque, «compete ao Estado desarticular os mecanismos que permitem o acesso ao mercado negro», conclui José Magalhães. O resultado será comunicado aos ministros da Administração Interna e da Justiça.

O Governo prevê, no próximo ano, um aumento de 30 cêntimos por maço de tabaco. Um aumento gordo que vai emagrecer as carteiras dos fumadores e dar mais trabalho aos investigadores das polícias.