Crucifies my enemies....

quinta-feira, outubro 06, 2005

Bode Expiatório

Moralmente, é tão condenável não querer saber se uma coisa é verdade ou não, desde que ela nos dê prazer, quanto não querer saber como conseguimos o dinheiro, desde que ele esteja na nossa mão." - Edmund Way Teale
Seu deus aceitaria o sangue de um indivíduo pelo crime de outro?

Todos os cristãos são unânimes em apontar o "maravilhoso" ato de deus ao entregar seu filho à morte como demonstração de amor à humanidade. Segundo eles "Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu filho unigênito, para que todos tenham a vida eterna".

Segundo os cristãos, isso foi um ato de amor com o qual se alegram. Porém, contraditóriamente, esses mesmos cristãos não aceitariam (com razão) morar ao lado de um vizinho que, em igual ritual, sacrificasse em holocausto seu próprio filho, como prova de amor à vizinhança.

A idéia de que a justiça divina aceita um substituto ou bode expiatório para os crimes humanos é chamada de doutrina expiatória. Nos tempos do Antigo Testamento, era comum se sacrificar animais em altares erguidos para esse deus. As pessoas faziam isso não porque odiavam seus animais ou não precisassem deles para seu sustento, mas porque lhes era dito que assim queria deus. Em todo Tanach está escrito que isso o agradava. Consta que deus em pessoa teria instruído Moisés sobre como fazer as oferendas, e indicou ocasiões e leis acerca dos rituais, bem como estipulou uma das doze tribos de Israel (levitas) como os únicos que poderiam conduzir os sacrifícios - criando uma casta de sacerdotes baseada no conceito de hereditariedade.

A doutrina expiatória tem sua origem na antiga e selvagem idéia de que podemos apaziguar os deuses oferecendo-lhes sacrifícios. Encontramos isso em diversas culturas. Nas culturas indíginas das Américas, mesmo entre os avançados Maias, ou nas tribos de aborígenes polinésios que sacrificavam virgens ao deus do vulcão ou da fertilidade. Não haveria de ser diferente entre os selvagens invasores de Canaã - e mesmo entre os primitivos habitantes daquela região, que também sacrificavam animais e humanos, mas que não eram bem vistos pelo deus do Velho Testamento, não porque esse deus não gostasse de sacrifícios, mas porque queria o monopólio das atrocidades.

Os israelitas chamavam a esse deus de Yahweh (Javé, ou Jeová, em português). Esse mesmo deus, que pelos cristãos é chamado simplesmente de Deus com "D" maiúsculo, não percamos de vista, exigia sacrifícios em rituais de não raro requintes de selvageria e desrespeito à vida, seja de animais, seja de humanos!

Então, como não era mais possível sustentar tais atrocidades num mundo que ia se tornando um pouco mais "civilizado", propagou-se a idéia de que Deus teria mandado seu filho a este mundo para, entre outras missões, acabar com os sacrifícios de animais, sendo ele próprio o último cordeiro a ter o seu sangue oferecido ao sedento deus.

Alguns apelam ao "contexto" de uma época em que a humanidade era selvagem, aplicando diversos tipos de falácias para justificar a aceitação de tais atrocidades. Dizem que, quando retirada do contexto, passagens bíblicas contendo ordens de Deus como esta em Ezequiel 9:5-6 "Percorrei a cidade logo em seguida e feri! Não tenhais consideração, nem piedade. Velhos, jovens, moços e moças, crianças e mulheres, matai a todos até o total extermínio", perdem o sentido. Ora, nenhum contexto justifica que um deus nos dê leis ou ordens tão ruins. Em qual o contexto é justo o genocídio? Em qual contexto se justifica matar indiscriminadamente velhos, crianças e mulheres?

Por piores que tenham sido seus pais ou maridos ou irmãos, mesmo sob os olhos de nossas leis atuais sabidamente imperfeitas, jamais é lícito aceitar que um inocente pague por um crime que outro cometeu. Agora, quando vindas de um deus bom e justo, seria de se esperar que suas leis fossem perfeitas, e não piores do que as humanas. Suas ordens não deveriam ser movidas pelo ódio, pela vingança, pelo ciúmes. Seus comandos não deveriam entrar em contradição com suas próprias leis: em um dado momento Deus dá ao homem leis como "não assassinarás", e num outro convida o seu povo escolhido a cometer genocídios, a exterminar outros povos.

Se a mitologia visa testificar a existência do Deus judaico-cristão – e, consequentemente, de seu filho – tudo o que consegue nos mostrar é o quão ignorante, o quão sádico (por sentir prazer com o sofrimento alheio), e o quão injusto (por exigir que quem pague pelos pecados sejam exatamente os inocentes) pode ser esse deus.

Aceitar que houve um filho de deus que morreu para que não tivéssemos mais que sacrificar animais inocentes, implica em aceitar que há um deus que se agrada dessas atrocidades, e aceitar tudo isso como normal.

Talvez, para pessoas que não se incomodam com os maus-tratos aos animais e, certamente, para aqueles que se comprazem com o sofrimento desses inocentes seres, esse deus venha bem a calhar. Mas para pessoas que, como eu, desprezam aqueles que desrespeitam a vida, toda essa mitologia, esse deus e seus dogmas são totalmente repugnantes!

Aceitar que alguém pode pagar pelos erros de terceiros é admitir que você não precisa se responsabilizar por nada. Simplesmente pode cometer seus crimes e, na hora de prestar contas com a justiça, pode simplesmente se dizer arrependido e, como prova do seu profundo arrependimento, assassinar um inocente. De preferência uma jovem e ainda pura ovelha. Se não tiver uma ovelha, serve um bode. Se você for pobre e não possuir animais, pode assassinar alguns pombos e rolinhas. Ou então alguma dentre suas próprias filhas virgens.

2 comentários:

Anónimo disse...

Macabro....
Que mente!

Luke disse...

Sim, very.