Crucifies my enemies....

terça-feira, maio 03, 2005

Entrevista com "Rammstein"

Richard Kruspe é o guitarrista e um dos membros fundamentais dos Rammstein, o grupo de "crianças que brincam", o "bode expiatório" dos males sociais.

O terceiro álbum dos Rammstein "Mutter", as acusações de simpatia com a extrema direita e a censura, foram alguns dos assuntos que polvilharam a conversa com Richard Kruspe, para quem a sua banda "precisa de críticos, e os críticos precisam dos Rammstein".

Voxpop - Encontra-se um feto na capa do álbum, o disco intitula-se "Mutter" ('mãe' em alemão). Porquê esta ligação toda com o processo de nascimento?

Richard Kruspe - Foi praticamente uma coincidência. Nós tínhamos esta música, "Mutter" (mãe), e a partir daí começámos a criar uma ideia, que também foi influenciada por um livro que nós vimos, feito por dois fotógrafos que viajaram pelo mundo a tirar fotos a corpos preservados de pessoas mortas. Fizemos uma sessão de fotografia que originou esta imagem. O próximo álbum terá o título de "Vater" ('pai' em alemão), por isso decidimos chamar a este álbum de "Mutter".

VP - Com que objectivo recrutaram uma orquestra para "Mutter"?

RK - Todas as bandas que fazem dinheiro, mais tarde ou mais cedo acabam por experimentar trabalhar com uma orquestra. No nosso caso, também isso acabou por acontecer. Por outro lado, o nosso álbum anterior ("Sehnsucht") era bastante electrónico, como tal, queríamos ver como é que a nossa música funcionava junto de uma orquestra. Ficámos satisfeitos com o resultado, sobretudo se compararmos com o que os Metallica fizeram, que eu considero não ter sido muito bem sucedido, ao terem juntado a orquestra com a música deles. Temia que o nosso trabalho com a orquestra não saísse bem, mas se não tivesse corrido, pura e simplesmente não teríamos incluído esta colaboração no CD. Uma das razões por as coisas terem corrido bem foi pelo facto de esta orquestra não tocar sob as ordens de um maestro mas sim sob o ritmo. E esta orquestra já estava habituada a tocar com música não erudita.

VP - Acha que receberam críticas injustas por causa do vídeo da versão dos Depeche Mode "Stripped", que faz referência ao documentário cinematográfico de "Olympia" (sobre as Olimpíadas de Berlim 1936), da realizadora oficial do regime de Adolf Hitler, Leni Riefenstahl?

RK - Eu acho essas críticas injustificadas, mas se fosse hoje voltaríamos a fazer o mesmo. Essas críticas começaram por vir da Inglaterra, de um certo senhor da mesma editora discográfica que a nossa, e que só queria aumentar as vendas do nosso álbum, fazendo sensacionalismo a partir do nosso vídeo. Mas os Rammstein precisam de críticos, e os críticos precisam dos Rammstein.

VP- Há dois temas do vosso primeiro álbum, "Herzeleid", que foram incluídos na banda sonora do filme de David Lynch, "Estrada Perdida". Considera que essa foi a primeira grande ajuda para a vossa internacionalização?

RK - Para nós, foi uma espécie de portão que nos foi aberto para o sucesso internacional.

VP - E foi motivo de regozijo para vós terem feito parte de uma banda sonora que incluía nomes como o Lou Reed e Marilyn Manson?

RK - É sempre um contentamento para nós sermos integrados numa banda sonora com músicos daquele nível, mas pensamos que isso sucede por causa do nosso trabalho e do nosso mérito. Não temos que agradecer todos os dias a alguém por nos ter proporcionado esta excelente oportunidade. Fomos nós com o nosso trabalho que conseguimos.

VP - Têm-se debatido com a censura?

RK - Houve um incidente em particular nos Estados Unidos, onde tivemos uma cena chocante com elementos sexuais o que levou a que dois membros do nosso grupo fossem presos, por terem protagonizado acções condenáveis aos olhos dos norte-americanos. Mas houve um estado onde existe uma determinada seita religiosa, que, por tal, nos obrigou a alterar essa tal cena chocante. Eu penso que os norte-americanos são muito pudicos e fechados em relação à questão sexual, e esse é de facto um problema deles. Eles no fundo querem censurar e criticar o seu próprio espelho, nós sentimos que reflectimos um espelho da sociedade, e se eles quisessem mudar alguma coisa, deviam pegar pela outra ponta.

VP - Já que fala dos Estados Unidos, foi anunciado publicamente que os Rammstein povoavam os gostos musicais dos jovens estudantes que estiveram por detrás do famoso massacre num liceu do estado de Colorado. Isso piorou ainda mais as coisas em termos da censura norte-americana?

RK - Claro que ficámos tocados e tristes pelas famílias das pessoas que foram mortas. Mas não acho que o problema esteja na música que as pessoas ouvem. Aquilo que fazem, fazem-no por si. É um problema na América, quando uma pessoa de catorze anos pode ir à rua e comprar uma arma. O artista é, e foi sempre, o bode expiatório, tal como acontece connosco. Se alguém erra, o culpado é o músico.

VP - Ainda usam fogo nos vossos concertos?

RK - Sim. Para nós o fogo é um meio muito interessante e vivo, tem um elemento visual muito forte, é rápido, e é, sobretudo, imprevisível. Nunca se sabe bem o que vai acontecer. Somos como pequenas crianças que brincam pela primeira vez com isqueiros, só que brincamos no palco.

VP - Vocês são piromaníacos?

RK - Não, somos só crianças que brincam.

1 comentário:

Eva Gonçalves, PhD Sociology disse...

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