Quando Martinho Lutero chegou ao mundo, na aldeia de Saxónia de Eislebeu, no dia 10 de Novembro de 1483, ninguém supunha que ele iria ser um dos maiores interventores no campo da religião.
No início do século XVI, todos os cristãos da Europa Ocidental e Central eram membros da Igreja Católica Romana, com obediência ao papa, que residia em Roma. A religião popular criara muitas superstições que não tinham cabimento nas doutrinas dos padres de outros tempos. Os papas pareciam mais príncipes italianos do que líderes religiosos. Foi por estas e por muitas outras circunstâncias que, nos princípios do século XVI, iniciou um movimento para tentar corrigir essas corrupções.
Era filho de um mineiro e um estudioso brilhante. Depois de se ter sentido atraído por uma visão, foi para um mosteiro, com o intuito de tornar-se num monge. Era propenso a graves crises de depressão, quando se desesperava por pensar que se não salvaria. Todo o conjunto de procedimentos da Igreja não conseguia apagar o seu sentimento de indignidade e pecado.
Pôs em questão muitas das práticas e cerimónias da Igreja, que o não satisfaziam, por achar que não estavam fundamentadas na Bíblia. Escreveu, então, as suas conclusões nas "95 Teses" e afixou-as à porta da Catedral de Vitemberga. Com os novos métodos de impressão fê-los circular, rapidamente, por toda a Europa e obtiveram a resposta de muitas pessoas com tendências religiosas e preocupadas com a situação da Igreja.
Em seguida começou a distribuir muitos panfletos e livros. Negou a autoridade absoluta do Papa, atacou a riqueza e a corrupção da Igreja e o papel privilegiado dos padres na sociedade. Proclamou o sacerdócio de todos os crentes. Defendeu que os padres deviam ser livres de poder casar e ele próprio abandonou os hábitos de monge e casou-se. Insurgiu-se contra as "indulgências" - documentos vendidos pela Igreja que se supunha possibilitarem a entrada no Céu a troco do pagamento de dinheiro.
Por todas essas posições que tomou foi excomungado pelo Papa e proscrito pelo imperador sacro-romano. Protegeu-o o Duque Frederico, da Saxónia, que partilhava das suas ideias. Este movimento, que ele encetou, foi chamado de "Reforma" e os seus seguidores foram apelidados de "Protestantes", devido ao inconciliável conflito que se travou com os católicos.
Tudo começou após as ineficácias do Concílio de Latrão, que nada modificou nos costumes e abusos da Igreja. E, o cálice extravassou, quando Leão X se empenhou na construção da Basílica de S. Pedro do Vaticano - ainda existente -, propondo aos fiéis as já citadas "indulgências", para a obtenção de fundos para a edificação da sumptuosa Basílica. A verdade é que muitos padres e muitos pregadores usaram esta possibilidade para abusar do seu poder sobre os fiéis. E da parte do Vaticano nada foi implementado para alterar esta situação.
Quando em 1517 decidiu publicar as "95 Teses", é porque já não aguentava mais com tão escandalosa vivência de algum clero e a opulência e ineficácia do papado.
Foi em 1520 que, através da bula "Exsurge Domine" que o papa Leão X o condenou, queimando a carta quando a recebeu. No ano seguinte foi excomungado. Acendia-se, com mais fervor, a fogueira da revolta, culminada com a "guerra dos camponeses" (1524-25), e esta sina político-religiosa durou décadas.
Do lado do catolicismo é rotulado de: animal feroz e furioso, blasfemo, sacrílego, profanador, inventor de "874 mentiras e mais de mil traições do texto da Bíblia", como titulava um livro contestando as suas teses. Traduziu o "Novo Testamento", tornando
acessível a Bíblia a todos os fiéis. Em 1529 publicou o Grande e o Pequeno Catecismo. No Concílio de Trento Roma seguiu-lhe os passos, publicando o primeiro catecismo da Igreja Católica.
Inúmeros fiéis seguiram o seu movimento de Reforma: Melanchton foi o seu principal discípulo e sucessor, que redigiu em 1530, a "Confissão de Augsburgo", uma espécie de carta das igrejas luteranas; Utich Zwingli e Calvino foram outros grandes continuadores do protestantismo.
Na madrugada de 18 de Fevereiro de 1546 desapareceu da face da Terra, mas o seu movimento estava bem implantado em diversas regiões do mundo. Mesmo na morte conseguiu dividir os que o rodeavam: o diagnóstico de angina de peito, que supostamente o matou, com 62 anos, não colheu a unanimidade dos médicos que o assistiam. Tão pouco foi pacificamente aceite a sua morte natural. Muitos contaram para a lenda que se tinha suicidado, outros que foi estrangulado pelo diabo. O seu testemunho, perante os que o assistiam nos derradeiros momentos de vida, depois de lhe perguntarem: "Padre deseja morrer apoiado em Jesus Cristo, confessando a doutrina que ensinou?" Respondeu, convicto: "Sim"!
Crucifies my enemies....
quarta-feira, novembro 17, 2004
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