Crucifies my enemies....

segunda-feira, outubro 11, 2004

Che Guevara

Ernesto Guevara de la Serna, filho de Ernesto Guevara Lynch e Célia de la Serna, nasceu em Rosário, Argentina, a 14 de junho de 1928 e foi assassinado no dia 8 de outubro de 1967, no povoado boliviano de Higueras, aos 39 anos de idade. Desde jovem, foi grande leitor. De literatura (Baudelaire, Lorca, Antonio Machado, Pablo Neruda, tendo este úlltimo o influenciado muito) a política e filosofia. Ainda adolescente, Che percorreu de bicicleta todo o Norte e Oeste da Argentina, num total de 4.700 km. Quando ajnda era universitário, viajou por quase toda a América Latina, usando de moto a balsa, ao lado de seu amigo Alberto Granados. Para pagar as despesas de viagem, trabalharam como carregadores, lavadores de prato, marinheiros e médicos, o que já revelava sua coragem, espírito de independência e desprezo pelo perigo. Foi a partir dessa viagem, que começou a se sentir e se expressar como um latino-americano e não apenas como argentino, quando viu o desamparo, a exploração e a miséria como traço característico do nosso continente. Em 1953, quando concluiu o doutorado em Medicina, rumou para a Venezuela, onde ficara seu amigo Granados, para trabalhar na pesquisa da lepra. Durante a viagem, quando se encontrava na Bolívia, conheceu o advogado argentino Ricardo Rojo (Autor do livro Meu Amigo Che), que estava refugiado naquele país, por sua atividade política antiperonista. Rojo lhe fez um convite decisivo: "Para que queres ir a Venezuela, um país que só serve para ganhar dólares? Vem comigo a Guatemala, porque ali vai ter lugar uma verdadeira Revolução Social" . Che desembarcou na Guatemala a 24 de dezembro de 1953, acompanhado de Rojo e do Dr. Eduardo Garcia, também exilado argentino. Na Guatemala, o presidente Jacobo Arbenz Guzmán desenvolvia um governo Revolucionário do qual Che participou através do Instituto Nacional da Reforma Agrária. Em 1954, um golpe militar organizado pelos Estados Unidos e dirigido pelo coronel Castillo Armas, derrubou o governo de Arbenz. Todas as tentativas de resistência fracassaram, inclusive a de Che, que tentou organizar um grupo mas nada conseguiu. Ernesto Guevara foi, então para o México onde chegou a 21 de setembro de 1954. Ali conheceu Hilda Gadea Acosta, que se tornou sua companheira e com quem teve uma filha, além de tê-lo influenciado decisivamente em sua formação política. Entretanto, na Guatemala, ele já havia se convencido da necessidade de lutar com armas nas mãos e passar à ofensiva.

O Encontro com Fidel Castro.

Nos primeiros tempos de México, Che desempenhou diversos trabalhos, como fotógrafo ambulante nas praças públicas e vendedor de livros da Editora Fundo de Cultura Econômico. Através de concurso, passou a trabalhar no maior hospital do país, como médico de doenças alérgicas. Foi nesse hospital que conheceu o paciente Raúl Castro. E em julho ou agosto de 1955, Raúl o leva ao apartamento de Maria Antônia, uma espécie de albergue a refugiados cubanos, para conhecer Fidel Castro Ruiz. É o próprio Che quem relata: "Conheci Fidel em uma daquelas noites mexicanas e recordo que nossa primeira discussão versou sobre a política internacional. Conversamos toda a noite e, ao amanhecer, já era médico de sua futura expedição".
Às duas horas da madrugada, do dia 25 de novembro de 1956, o iate Granma zarpou do porto mexicano de Tuxpán, com 82 jovens a bordo. "Valia à pena morrer numa praia estrangeira por um ideal puro", decidiu Che.
Para Fidel, Guevara foi uma das figuras mais surpreendentes da façanha cubana, como também seu primeiro e grande cronista. "Um dos mais admirados, dos mais amados e, sem dúvida alguma, o mais extraordinário de nossos companheiros de Revolução". E, ironicamente, Che havia sido declarado inapto para o serviço militar pelo Exército argentino.
Durante a Revolução Cubana, onde os Revolucionários desenvolveram uma das lutas mais dignas que se conhece, Che cuidava dos inimigos, com a mesma dedicação.
Em plena luta, na Sierra Maestra, criou o jornal El Cubano Libre, para transmitir informações da guerrilha e as idéias que a animava.
Quando a Revolução triunfou, Fidel deu a Che cargos de grande responsabilidade, como a Presidência do Banco Nacional, para estabilizar a grave situação das dívidas contraídas pelo ditador Fulgêncio Batista; posteriormente assumiu o Ministério das Indústrias e estabeleceu salários e condições dignas de trabalho, conseguindo aumentar a produtividade das fábricas e a satisfação dos operários. Mais tarde, recebeu a incumbência de coordenar e incrementar as indústrias recém-nacionalizadas, num quadro absolutamente adverso, quando a pequena nação era futisgada e boicotada pelo imperialismo americano.
Em todas as funções que desempenhou, Che sempre colocou o homem em primeiro plano, tudo era decidido a partir do social. Ele sempre procurava que o conjunto da sociedade agisse sobre cada um de seus membros e que, ao mesmo tempo, o indivíduo contribuísse para a construção da consciência social. Sobre a construção da economia cubana, Che manteve importantes debates com grandes economistas, como Bettelheim, Mora e Fernández Font.
Uma de suas primeiras atitudes, ao assumir sua parcela de poder, foi proibir investigações e perseguições ideológicas. As investigações somente deveriam ser realizadas quando o cidadão manifestasse seu desejo de ingressar no Partido.
Grande escritor, Che Guevara era um repórter do seu tempo; em seus livros, mostra a saga dos guerrilheiros cubanos e discute teorias políticas, econômicas e sociais com a maior objetividade possível, para que pudesse ser entendido por qualquer de seus companheiros ou trabalhador.
Representando o governo cubano, Che viajou por diversos países do Terceiro Mundo, constatando que os problemas dos subdesenvolvidos eram semelhantes na África, Ásia e América Latina: a espoliação imperialista dos países desenvolvidos, sobretudo dos Estados Unidos. No Brasil, Che esteve em 1961, sendo condecorado com a Ordem do Cruzeiro do Sul pelo Presidente Jânio Quadros.
Após a constituição do Governo Revolucionário, o povo cubano achava que Che iria deixar a Ilha para lutar em outros países. Mas a Revolução necessitava de sua contribuição e ele ficou, sendo um exemplo de trabalhador abnegado, herói da reconstrução. Seis anos depois, quando a revolução já havia passado pelo seu batismo de fogo, quando as fábricas e os campos já produziam regularmente, Che se foi. Escolheu a Bolívia, uma das mais sofridas e espoliadas de nossas pátrias. Embora sendo o segundo homem mais poderoso de Cuba, em 1965, abandonou o poder e a segurança de uma Revolução vitoriosa e partiu para o risco de novas guerrilhas, tendo lutado no Congo Belga de agosto de 1965 a março de 1966, ao lado dos guerrilheiros de Pierre Mulele e Gastón Soumilat, contra os mercenários brancos de Moses Chambe.
Num Discurso na ONU, a 11 de dezembro de 1964, Guevara dizia: "Nasci na Argentina, isso não é segredo para ninguém. Sou cubano e sou argentino e, se não ofenderem as ilustríssimas senhorias da América Latina, sinto-me tão patriota da América Latina, de qualquer país da América Latina, como o maior deles, e o momento em que for necessário, estarei disposto a entregar a minha vida pela libertação de qualquer um dos países da América Latina, sem pedir nada a ninguém..."
Ao partir para a Bolívia, escreve uma carta de despedida a seus filhos, em que diz:
"Seu pai é um homem que age como pensa e, é claro, foi leal com suas convicções..." Tinha 5 filhos, um do seu casamento com Hilda Gadea Acosta e 4 com Aleida March de la Torre, professora e sua companheira na Sierra de Escambray, com quem se casou pela segunda vez.
Aos pais, escreveu: "Muitos me julgarão aventureiro, e o sou; só que de um tipo diferente, dos que arriscam a pele para defender suas verdades".
E para seu companheiro Fidel Castro, escreveu, ao se despedir:
"Se me chegar a hora definitiva sob outros céus, meu último pensamento será para este povo e especialmente para ti. Agradeço aquilo que me ensinaste e teu exemplo, ao qual tentarei ser fiel até às últimas conseqüências dos meus atos."

Bolívia. O último combate.

Em novembro de 1966, Che chegou a La Paz, com documentos falsos, com o nome de Adolfo Mena, Enviado Especial da OEA, para realizar um estudo sobre as Relações Econômicas e Sociais vigentes no Campo Boliviano. A credencial foi fornecida pela Direção Nacional de Informações da Presidência da República. Nessa oportunidade, Che se apresentava bastante calvo e sem barba. Seu roteiro de viagem até La Paz incluiu Praga, Frankfurt, São Paulo e Mato Grosso.

O movimento guerrilheiro da Bolívia recebeu ajuda financeira, entre outros, de Cuba, Sartre e Bertrand Russel, que recolheram dinheiro nos meios intelectuais. Após onze meses de luta e uma série de peripécies, as guerrilhas foram dizimadas pelos "Boinas Verdes Quíchuas", tropa de elite do exército boliviano, treinada pelos Estados Unidos especialmente para esse fim.

Che foi ferido na tarde do dia 7 de outubro de 1967, à 13:30, aproximadamente. Atingido em várias partes do corpo, orientou seus captores na colocação de torniquetes para estancar as hemorragias. Em seguida, foi levado para Higueras, lugarejo a 12 km do estreito do Rio Yuro, onde aconteceu sua última batalha. Deixaram-no abandonado, sem nenhuma assistência, numa sala vazia da escola local. Após 24 horas e numerosas consultas chega a ordem: Che Guevara deve morrer.

O capitão Gary Salgado, chefe da companhia de rangers do 2º regimento que o capturou, dispara-lhe nas costas um rajada de metralhadora, de cima para baixo. O Coronel Andrés Selnich, comandante do 3º Grupo Tático, dá-lhe o tiro de misericórdia, com sua pistola 9 mm. A bala atravessa-lhe o coração e o pulmão.

Está morto o símbolo da guerrilha na América Latina, que se achou mais útil ao seu povo servindo à causa da Revolução Internacional que à da Medicina.

A extinta TV Tupi foi a única emissora de televisão no mundo a filmar o corpo de Che. A equipe estava em Valegrande, em virtude de problemas com o carro que a transportava, a caminho de Camiri, onde haveria o julgamento de Régis Debray, companheiro de Che que havia sido preso quando chegou a notícia da morte de Che. Filmaram a chegada de helicóptero, que trazia o corpo do guerrilheiro amarrado na sua parte exterior, o povo que o esperava e em seguida sua autópsia realizada num casebre que servia de necrotério ao Hospital Senhor de Malta, em Valegrande.

"Um Ernesto Che Guevara magro, de barba rala, olhos muito abertos e um sorriso estranho nos lábios mortos", lia-se no Jornal da Tarde de 11 de outubro de 1967.

Logo após mostrarem o corpo aos poucos jornalistas que conseguiram chegar a tempo ao local, arrancaram-lhe o dedo indicador, não se sabe pra quê, e incineraram seu corpo, pois temiam um peregrinação ao seu túmulo.

Em 1971, Fidel Castro tentou trocá-lo por prisioneiros cubanos, mas a Bolívia se recusou a negociar.

"De Che nunca se poderá falar no passado." Fidel Castro.

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