Crucifies my enemies....

sexta-feira, março 12, 2004

Encontrei este texto no Inimigo Público, de 12 de Março 2004.
A autoria é de John Snows.

"Cold Mountain" nunca será um filme de culto. E por "filme de culto" não quero dizer as emissões da igreja Renascer, ou o "Fátima" com o Joaquim de Almeida, o Diogo Infante e a Catarina Furtado (não, não eram eles os três pastorinhos). Refiro-me àqueles filmes mais ou menos marginais que, vá-se lá saber porquê, arrebatam legiões de fãs.
Em "Cold Mountain", Nicole Kidman é uma jovem sulista que espera o regresso de Jude Law da guerra. Com a morte do pai, a sua quinta fica mais abandonada do que uma promessa eleitoral e ela aceita a ajuda de Renée Zellweger para ordenhar as vacas e plantar as couves (já que ela própria é mais do tipo de plantar as vacas e ordenhar as couves). Entretanto, ele deserta e regressa a casa, enfrentando as maiores dificuldades. No final, os dois reencontram-se e ele morre - o que não surpreende, pois antes de fugir confessa que daria tudo por dez minutos com ela. Eu sei que se trata da Nicole Kidman, mas mesmo assim é preciso ter cuidado com o que se pede...
Porque é que "Cold Mountain" nunca será objecto de culto?
1) Foi candidato aos Óscares. Um candidato massivamente derrotado, é certo (só a Zellweger levou a estatueta para casa), mas nenhum "cult movie" que se preze merece (ou quer) a atenção da Academia.
2) O seu realizador, Anthony Minghella, está na lista A dos grandes estúdios, depois de ter realizado filmes como "O Talentoso Mr. Ripley". Os realizadores de filmes de culto estão normalmente nas listas Z - e riscados por cima.
3) Tem um elenco mais galáctico do que o Real Madrid - os secundários são Donald Sutherland, Philip Seymour Hoffman, Brendan Gleeson, etc. Nos "cult movies", os nomes são mais do tipo Bruce Campbell e Jack Nance. Conhece? Precisamente...
4) É adaptado de um romance que chegou ao n.º1 das listas de vendas. Um verdadeiro filme de culto raramente é adaptado, e muito menos de um "best seller" - nasce da imaginação doentia de um autor só conhecido por meia dúzia de amigos tão tarados como ele.
5) O guião é imaculado. Tudo está no sítio certo, com conta, peso e medida, preciso e frio como um relógio suíço. O "cult movie" é sempre excêntrico, surrealista ou simplesmente estúpido - mas também surpreendente, memorável e contagiante.
6) Tecnicamente, é inatacável - as paisagens parecem saídas de um livro de mesa. Num filme de culto, pelo contrário, os discos voadores são feitos com tampões de rodas; o sangue é ketchup; e os mortos-vivos parecem a Lili Caneças a tirar-se ao Herman José. Mas é isso que faz o seu encanto (os mortos-vivos, não a Lili Caneças).
7) E, finalmente, nunca vai ouvir ninguém falar de "Cold Mountain" tão excitadamente como um verdadeiro fã fala d´"O Ataque dos Tomates Assassinos". Que, por acaso, até é um filme fantástico, realizado e escrito por John de Bello, com David Miller e Sharon Taylor, e uma história genial em que os tomates mutantes invadem as ruas da América e o presidente tem que....

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